sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

As Denominações de Origem no Brasil


As Denominações de Origem são essenciais para o desenvolvimento da viticultura brasileira? Há dez anos o Brasil tinha sua primeira Indicação Geográfica criada, o Vale dos Vinhedos. Temos visto a partir daí o surgimento de uma sequência de outras Indicações, não somente para regiões vinícolas, mas para outros produtos oriundos do setor agropecuário. No ano passado, o Vale dos Vinhedos, deu um passo a mais e conquistou junto ao INPI o registro de Denominação de Origem. Outras regiões, como Pinto Bandeira, estão buscando o mesmo.

Foto 1: DO Vale dos Vinhos - Vinhedo da Miolo (Foto: web)

As Indicações geográficas no Brasil seguem os moldes da Europa. O conceito vem de lá, e a proposta é de se obter produtos genuínos, com procedência certificada, com um padrão mínimo de qualidade. Estas IGs possuem um regulamento que determina normas de produção, fiscaliza, e oferece apoio institucional, principalmente aos pequenos produtores. Para ostentar e se beneficiar do nome da região, o vinho deve então respeitar todas as normas de produção, desde o vinhedo até o engarrafamento. Tudo isto gera certa burocracia e onerosidade ao produto final. Como existem empresas de diferentes propostas e tamanhos que coabitam em uma mesma região, conflitos são quase inevitáveis.
Uma das premissas da DO é criar produtos genuínos, e aí entra uma questão levantada pelo escritor e crítico de vinhos Oz Clarke quando esteve em sua última visita ao Brasil. Em entrevista, ele se refere ao fato da DO Vale dos Vinhedos permitir apenas a uva Merlot como varietal. Por ser uma região de colonização italiana, especialmente da região do Trento, ele gostaria de ver uma variedade de lá como sendo emblemática. Ele cita a uva Teroldego, produzida por algumas vinícolas, e uma série de variedades que foram trazidas pelos imigrantes italianos, mas que foram esquecidas no tempo.

Foto 2: DOCG Vino Noble di Montepulciano - Itália (Foto: web)
Limitar a produção em três, duas ou até mesmo em uma variedade de uva numa região cria uma identidade, mas tira a liberdade do produtor e o deixa vulnerável às flutuações do mercado. A Merlot, embora que resulte em grandes vinhos, nada tem de original. É produzida em todas as regiões do mundo. Será que precisamos ser tão restritivos? Dentro de tantas variedades existentes e que ainda não foram testadas, limitar o cultivo em uma ou duas? Precisamos seguir à risca o modelo Europeu, que, diga-se de passagem, encontra-se em decadência?
Temos uma história recente e me parece que temos muito a aprender ainda. Será que o consumidor brasileiro, acostumado a comprar variedade ou marca, irá comprar a ideia de uma região, como quando compra um Borgonha? Na Europa houve uma grande reforma das DOs no ano de 2010 visando simplificar o sistema, tornando-o menos burocrático e mais competitivo, visto que algumas delas não gozam de reputação e carecem de recursos financeiros até mesmo para seu autocontrole e sua promoção. Muitas delas estão em via de desaparecimento. O Brasil, no entanto, está adotando este modelo Europeu mesmo tendo uma carga tributária enorme e sofrendo uma concorrência desleal com os vinhos importados.
As circunstâncias não são muito favoráveis para geração de mais burocracia e onerosidade para o vinho nacional. Isso é visível pelo pequeno número de vinhos com DO no Vale dos Vinhedos, que dever ser menos de 10% da produção total. O restante são vinhos elaborados com uvas procedentes de outras regiões, ou que não seguem as normas pré-estabelecidas. Na teoria uma DO é muito bom, desde que ela possa ser justificável para o consumidor no plano qualitativo, e para o produtor, no plano comercial.


Fonte: Winetag
 

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